sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Neblina e Chuva mudam os planos.

Chegamos a Roncesvalles.

O caminho nos mostra que a falta existe em qualquer lugar. Muita neblina e muita chuva nos indicam que não é prudente atravessar os vinte e sete quilômetros e meio de Pirineus à pé. Todos daqui nos aconselharam a partir de Roncesvalles.

A maioria dos peregrinos que aqui estão parecem que não vão fazer o caminho inteiro. Alguns se assustam com nossa disposição.

A chuva intensa molhou o tênis do Ramiro, deixou meio húmida minha capa e nos molhou por fora e por dentro.

A catedral que só vimos com mais cuidado internamente, por causa da chuva, nos passa um ar taciturno. Na verdade, estou escrevendo no plural, mas tenho que escrever no singular. É que já me sinto parte, dupla de dois do time que vai sair daqui amanhã e chegar feliz a Santiago de Compostela. Eu e meu amigo de infância (na cabeça dele oitava série já é adolescência, na minha, infância) Ramiro Maia vamos negociar com o caminho, brigar e fazer as pazes conosco, viver apenas mais quarenta dias de vida - esperamos - de um modo não tão habitual.

Devo confessar, chorei baldes na missa do peregrino, que assistimos à pouco. Não sei o porquê. Não estou pagando promessa, não estou com um motivo exatamente claro em minha mente, a não ser o que confidenciei para a filósofa da minha família. Aliás, eu diria que o motivo é filosófico. Não vi se o Ramiro se emocionou, fiquei muito centrado na minha experiência, e no sentimento do todo, de todos que ali estavam. Os quatro párocos que celebraram a missa comungaram de uma energia semelhante, me parece: integrada, misteriosa. Ouvi-los cantar reverberando alma pelo interior cinza-pedra que me parecia gótico - eu e meus vastos conhecimentos de arquitetura... - realmente me fizeram mudar de plano astralmente falando...

Experiência sutil única, preciso confessar.

Cheios de bênçãos vamos dormir (nos contêiners com oito ou dez camas que nos servem de alojamento), na certeza que caminharemos amanhã o dia inteiro na chuva, interna e externa. E que os efeitos da interna não sejam tão molhados que nos afoguem nem tão cheio de ondas que nos façam náufragos em nós.

Obrigado, meu Deus, por me trazer até aqui.

Obs.: ainda não foi possível postar fotos nos textos. Assim que der, coloco as fotos nos textos anteriores para ilustrar a fala, para a imaginação da palavra...

Bê.

Um comentário:

  1. Ei Bê, saudades... fiquei imaginando vocês na missa do peregrino... já ganharam os cajados?
    Imagino que amanhã vocês caminharão os 22km de Roncesvalles a Zubiri, passando por aquele monumento de pedra que tem no livro do Mano, lembra?.. Tire fotos se a chuva permitir!!!
    E depois nos conte quanto pesaram as mochilas... fiquei curiosa. Diga para o Ramiro que esta é uma boa hora para usar o saco estanque ;-) Que Deus acompanhe vocês... Ânimo!!! Fico daqui torcendo todos os dias. Bjos

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